Quando a televisão surgiu de forma comercial no Brasil nos anos 1950s, as pessoas diziam que com isso o rádio acabaria. Quando a internet se popularizou na década de 1990, havia quem dissesse que era o fim de outras fontes de entretenimento. E, mais recentemente, quando os streamings surgiram, chegou a vez de decretarem a morte da TV como a conhecemos.
O fato é que nenhum desses outros meios de comunicação acabaram. Todos eles resistem ao tempo. Apenas se adaptaram para atender as necessidades das pessoas, em todas as suas variáveis de idade e geração. Assim, a mesma ideia pode ser aplicada quando o assunto é robôs e mercado de trabalho.
Inovações como a Inteligência Artificial foram associadas aos robôs, que procuram se assemelhar às pessoas. É comum encontrar no mercado tipos de humanóides ou outros exemplos de robôs sendo aplicados em diferentes utilidades. E um pânico é gerado a cada notícia publicada sobre seu potencial em substituir as ações humanas. Isso acaba alterando as considerações em torno do futuro do trabalho.
Robôs e mercado de trabalho: uma volta ao passado
Quem assistiu o filme “Tempos modernos”, do talentoso Charles Chaplin, fará uma conexão com o tema deste texto. A obra, ambientada na década de 1930 do século passado, tem como pano de fundo a produção de uma fábrica, como reflexos da revolução industrial. Também evidencia a divisão de trabalho na linha de montagem. O que se concretizou na realidade com movimentos como o Fordismo, criado por Henry Ford e que acelerou o sistema de gestão da indústria automobilística no século passado.
Com a chegada das máquinas que automatizam os processos e as jornadas de trabalho dos humanos, muito se fala sobre o fim de algumas ocupações. O que de fato aconteceu, mas em outro formato, diferente do imaginado.
Para programar essas máquinas, criar os robôs, gerir a produção automatizada, é preciso pessoas capacitadas para tal função. Com isso, acontece uma substituição natural de funções, havendo uma migração de especialistas. Assim como as tecnologias e as comunicações mudam, os empregos também evoluem. Vejam esses dados: Em 1940, a Companhia Americana de Telecomunicações tinha cerca de 350 mil telefonistas, que não são mais necessários hoje. Entretanto, em 2022, é estimado que existam no mundo aproximadamente 12 milhões de pessoas que trabalham como desenvolvedores de aplicativos móveis.
Mudanças também acontecem com a Inteligência Artificial. O recurso funciona a partir do aprendizado de máquina, de processos e troca de feedbacks — feita por humanos. Mesmo que tenha algum tipo de independência, sempre haverá alguém por perto, para lhe orientar, corrigir e ampliar o conhecimento.
Este é um dos desafios de liderança que precisa aprender a usar essa vantagem colaborativa, a cada nova tecnologia anunciada. E que precisa ser discutido de forma responsável para que humanos e robôs possam “andar” lado a lado.
Benefícios e impactos no mercado de trabalho
É certo que seja necessário ter um tom otimista, mas sem perder de vista as necessidades que a tecnologia impõe. Vários recursos tecnológicos têm o poder de automatizar e agilizar processos e facilitar o curso dos negócios. A medida tende a promover uma gestão ágil nas organizações. Assim, os ganhos vêm na mesma proporção, com agilidade.
Entretanto, é preciso que tanto organizações quanto a própria força de trabalho se atualizem. Caso contrário, de fato, algumas posições se perderão pelo caminho. Ao menos é o que apontam algumas pesquisas, como a intitulada Automation and job loss: the Brazilian case.
O estudo foi feito por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, IESE Business School, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto e IDados. E traz alguns números interessantes para o atual debate: 58,1% dos empregos correm o risco de desaparecer em 10 anos. Isso pode acontecer em virtude de fatores como a automação proporcionada pelas máquinas. Ainda: os trabalhadores informais são os que têm a maior chance de serem impactados de forma negativa.
Outro estudo, divulgado pela consultoria McKinsey, apontou uma estimativa, desta vez em escala global. Até 2030, estima-se que entre 39 a 73 milhões de empregos desapareçam em razão da automação.
Futuros possíveis na relação entre robôs e mercado de trabalho. Como reduzir o impacto?
Um dos caminhos possíveis é ampliar a colaboração entre homem e máquina, aproveitando as benesses que surgem dessa interação. Indo pelo lado oposto, no qual a adoção de um anula o outro, e que pode confirmar as estimativas dadas pelas pesquisas.
Ou seja, é preciso que haja uma cooperação no sentido de compartilhamento da carga de trabalho. As máquinas podem, por exemplo, fazer ações que para seres humanos tornam-se cada vez mais insustentáveis ou insalubres. Enquanto isso, os mesmos trabalhadores que faziam tais tarefas podem, em certa medida, supervisionar as máquinas. E alertar quando algo não ocorre dentro da normalidade.
Afinal de contas, a capacidade de aliar inteligência com agilidade e uma boa dose de emoção e empatia ainda é dos humanos. E aqui frisa-se o poder da inteligência emocional, e a vantagem que esta pode ter em determinadas situações. Racionalidade é importante, e recursos como a Inteligência Artificial já conseguem dar retornos sobre isso. Contudo, a emoção ainda não. Nesse ponto, a inovação ainda é feita de gente.
A solução para tal impasse deve permear os horizontes de inovação traçados dentro de uma organização. Diferente do que se possa imaginar, não é algo que cabe apenas às forças de trabalho para resolverem. Isso porque os resultados do que está por vir impactam tanto trabalhadores quanto os próprios negócios. Nada mais justo, portanto, que a solução seja tomada em conjunto.
Toda essa reflexão sobre robôs e mercado de trabalho nos conduz a um outro debate: existem limites para a inteligência artificial? É o que esse artigo traz à luz e que deixo aqui o convite para a leitura.