Qual o espaço do ócio criativo em uma sociedade complexa?

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Ocio Criativo

“O homem que trabalha perde tempo precioso”. A frase é de um pensador espanhol e era usada como imagem de tela do computador do sociólogo e escritor Domenico De Masi, criador do conceito de ócio criativo. 

Ao escrever um livro de mesmo nome, “O Ócio Criativo”, De Masi não tentava condenar o trabalho ou promover a preguiça. Mas, sim, questionar a idolatria ao trabalho e a competitividade da sociedade pós-industrial. 

Em tese, De Masi acredita que: “O futuro pertence a quem souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho como obrigação ou dever e for capaz de apostar em uma mistura de atividades, onde o trabalho se confundirá com o tempo livre, com o estudo e com o jogo, enfim, com o ‘ócio criativo’”. 

A questão que ele levanta pode ser difícil de entender e até mesmo de aplicar para algumas pessoas. 

Afinal, já falamos em diversas ocasiões sobre as rápidas mudanças da sociedade, da necessidade da cultura ágil nas empresas, de buscarmos novas capacidades e habilidades técnicas e comportamentais. Todo esse movimento parece se afastar do ócio, certo? Errado. 

Neste artigo, entenderemos com mais detalhes o conceito de ócio criativo. Qual a sua importância para o futuro do trabalho. E como ele pode se encaixar numa sociedade repleta de problemas complexos

O que é ócio criativo? 

O ócio criativo não tem nada a ver com preguiça. Para Domenico De Masi, o ócio criativo é a presença simultânea do trabalho, do estudo e da diversão nas atividades cotidianas

Sendo o trabalho um meio para criar riqueza, o estudo para adquirir conhecimento e a diversão para ter bem-estar. Assim, a união desses três aspectos pode ser observada em diferentes situações do dia a dia. 

Em entrevista concedida no ano de 2014, o sociólogo italiano apontou que até mesmo o momento em que ele e a repórter conversavam poderia ser classificado como um exemplo de ócio criativo. 

Desse modo, enquanto resolvemos questões de trabalho, também podemos nos divertir e aprender. E enquanto assistimos a um filme, também estamos adquirindo conhecimentos, percepções e ideias que poderão impactar nas atividades de trabalho. 

Qual a diferença entre ócio criativo e “não fazer nada”?

O ócio criativo é a atividade criativa que reúne os três aspectos citados anteriormente (trabalho, diversão e estudo). 

Já o descanso, ou então, o “não fazer nada” seria o ócio destrutivo, o ócio no qual não se produz coisa alguma, a não ser descanso. Esse tipo de ócio não precisa ser evitado, visto que o repouso também é importante na realidade em que vivemos. 

Inclusive, perguntado sobre como seria possível praticar o ócio criativo em uma sociedade com um ritmo tão frenético, De Masi criticou essa “correria” e a pressão pela velocidade. 

Assim, para conquistar um ritmo mais saudável e fugir do frenesi diário, seria preciso trabalhar com inteligência. 

O ócio criativo na sociedade digital 

Segundo Domenico De Masi, apenas 30% das pessoas no mundo praticam o ócio criativo. Isso porque ele seria inerente às atividades de designers, atores, professores, estudantes, etc. 

Essa afirmação nos faz pensar que o ócio criativo é limitado e que a maioria das pessoas do mundo não seria então capaz de praticá-lo. No entanto, em seu livro, ele também destaca a tecnologia como aliada na ampliação do ócio.

É importante entendermos que a visão do sociólogo estabelece um contraponto entre a era industrial e a pós-industrial. Desse modo, segundo De Masi, a era industrial foi a que mais promoveu essa separação entre trabalho e diversão. Onde as atividades exigiam mais esforço físico e causavam cansaço, e que não era possível (ou permitido) agregar prazer.  

Conforme o estudioso, o avanço da tecnologia e a automatização de tarefas operacionais contribui para que as pessoas se voltem para atividades típicas do ócio criativo. E, por consequência, propicia novas formas de organização do trabalho, incluindo o trabalho remoto

O crescimento da criatividade no trabalho 

Nas próprias palavras do autor, em palestra promovida pelo Instituto Federal de Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) em setembro de 2022, Domenico De Masi afirma que o trabalho se intelectualiza cada vez mais. Tal apontamento explica a extinção de algumas profissões, por exemplo. 

Portanto, a produção de ideias advindas dessa ascensão do trabalho criativo não depende mais do controle das lideranças das organizações sobre os colaboradores. Mas, sim, da motivação de cada um. Sendo função das empresas e dos líderes do futuro, estimular e contribuir com o engajamento das pessoas da equipe. 

Inclusive, a palavra ‘equipe’ ganha ainda mais significado quando o autor destaca a criatividade como uma síntese entre imaginação e realização. Visto que ela não pode ocorrer sozinha, sendo a manifestação de um grupo. 

Essa visão se integra com o que já falamos tantas vezes neste blog, quando tratamos da inovação organizacional como um processo, sobretudo, colaborativo. 

Por que o ócio criativo é importante?

O ócio criativo é importante porque permite que as pessoas exercitem a capacidade de criar, de refletir, de se divertir, de aprender mais sobre o mundo. Ele é o oposto da rotina de trabalho exaustiva com longa carga horária e que exige respostas rápidas sem que seja possível refletir sobre elas de fato.  

Além disso, como foi mencionado, o ócio criativo tende a ser ampliado no futuro. Futuro que, na verdade, já está acontecendo. Com cada vez mais máquinas exercendo atividades rotineiras, a expansão da inteligência artificial com alta capacidade de respostas a problemas, algoritmos apoiando pesquisas, etc.

Tudo isso proporcionará mais tempo livre. Ou seja, mais ócio criativo, visto que ele é o mesmo que tempo livre de escolha, como conceituou o filósofo e escritor, Mário Sérgio Cortella.  

E assim, segundo De Masi, “a identidade de uma pessoa não será mais determinada pela atividade que ela realiza, mas pelo seu tempo livre, ou melhor, por como vive no resto da vida enquanto não está trabalhando”

Contudo, para podermos ter atividades denominadas como ócio criativo, é preciso ter disposição à criatividade. Ou seja, de forma simples e objetiva, ser alguém sempre aberto a aprender, colaborar, experimentar ideias. 

O que você pensa sobre esse tema? Você consegue praticar o ócio criativo em sua vida? Deixe seu comentário! 

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