Liderança na pejotização: como transformar desafios em oportunidades

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Estamos vivendo tempos de profundas mudanças no relacionamento entre profissionais e empresas na forma de entrega de serviços. Assim, é comum que profissionais autônomos e de certa forma, especialistas, sejam contratados na condição de uma pessoa jurídica, por vários motivos.

Esse movimento, conhecido como “Pejotização” está transformando a forma como as empresas se relacionam com seus profissionais, motivadas pelas mudanças na legislação trabalhista, e também por uma maior flexibilidade, porém essa nova realidade apresenta desafios e oportunidades únicas para os líderes.

Esse novo cenário impõe uma necessidade para liderar com eficácia esse modelo. Este artigo apresenta algumas diretrizes práticas para desenvolver habilidades específicas, criar uma relação de confiança, engajamento e produtividade com colaboradores que tenham sido contratados como “PJs”.

O que é pejotização e por que ela cresceu?

A pejotização é a prática de contratar profissionais como prestadores de serviços por meio de pessoas jurídicas (PJs). A sua principal característica é a ausência do vínculo empregatício tradicional, comum aos trabalhadores contratados no modelo da CLT. No caso da contratação de PJ, a relação se dá entre duas empresas e não no modelo pessoa jurídica x pessoa física.

O segmento da pejotização vem ganhando destaque no mercado de trabalho brasileiro, quer seja  pelo seu impacto nas relações trabalhistas como pelas discussões que surgem em decorrência dos seus atributos e sustentabilidade econômica.

Dados recentes do IBGE mostram que, em 2023, o Brasil registrou 9,9 milhões de trabalhadores atuando como PJs. Embora não seja um fenômeno novo, a pejotização foi intensificada por dois fatores principais: a Reforma Trabalhista de 2017, que flexibilizou as normas de contratação, e a pandemia da Covid-19, que acelerou a adoção de modelos mais ágeis e menos dispendiosos no que se refere ao vínculo empregatício.

Além disso, esse fenômeno reflete tendências globais, como o crescimento da gig economy (modelo de trabalho baseado em tarefas pontuais e temporárias, com foco em flexibilidade e contratação de freelancers.) observada nos Estados Unidos e na Europa, onde o trabalho flexível e a prestação de serviços autônomos estão redefinindo a relação entre empregadores e trabalhadores. No Brasil, o impacto da pejotização é significativo porque apresenta um mercado de trabalho marcado por altas taxas de informalidade e desafios estruturais na criação de empregos formais.

Embora ofereça benefícios como redução de custos trabalhistas, maior flexibilidade para ajustar equipes às demandas do mercado e maior velocidade nos processos de contratação e desligamento, a pejotização também levanta questões importantes sobre a precarização das relações de trabalho. 

Esse modelo pode trazer vantagens para profissionais, como mais autonomia, poder de negociação e a possibilidade de atender múltiplos clientes simultaneamente. Porém, também os expõe à ausência de benefícios como férias remuneradas, 13º salário e acesso ao FGTS, além de maior instabilidade em suas condições de trabalho.

Por outro lado, pode ser um artifício estratégico, usado para disfarçar um vínculo empregatício com características de subordinação, habitualidade e exclusividade. Esse fato ressalta a necessidade de líderes empresariais e gestores agirem com responsabilidade ao adotar esse modelo de contratação, equilibrando a busca por flexibilidade com o respeito aos direitos trabalhistas. 

Quais os desafios da liderança em tempos de pejotização?

É fato que a contratação de profissionais como pessoas jurídicas trouxe mais flexibilidade para as empresas, porém, levanta questões que exigem atenção e habilidade dos líderes. Liderar em tempos de pejotização requer um entendimento apurado das dinâmicas de gestão em ambientes não tradicionais. 

O modelo de liderança situacional, proposto por Hersey e Blanchard, pode ser uma ferramenta que ajude as lideranças que buscam adaptar seu estilo às necessidades de equipes diversas. 

O que é o modelo de liderança situacional?

O modelo de liderança situacional sugere que os líderes devem adaptar seu estilo de liderança com base em dois fatores principais:

  1. Tarefa: o grau de orientação que o líder dá sobre “o que” e “como” o trabalho deve ser feito.
  2. Relacionamento: o nível de apoio emocional e social que o líder oferece ao liderado.

Esses fatores se combinam em quatro estilos de liderança, que variam de maior a menor controle:

1. Diretivo (S1): alta orientação para a tarefa e baixa para o relacionamento. Útil quando os liderados são inexperientes e precisam de instruções claras.

2. Persuasivo (S2): alta orientação para a tarefa e para o relacionamento. Ideal para liderados que ainda estão desenvolvendo suas habilidades, mas precisam de motivação.

3. Participativo (S3): baixa orientação para a tarefa e alta para o relacionamento. Usado quando os liderados são competentes, mas precisam de incentivo para se comprometer.

4. Delegativo (S4): baixa orientação para a tarefa e para o relacionamento. Indicado para liderados altamente capacitados e autônomos, que precisam apenas de supervisão mínima.

Imagem retirada do livro: Kinicki, A., & Fugate, M. (n.d.). Gestão de comportamento organizacional: utilizando recursos humanos.

Como aplicar a liderança situacional no contexto da pejotização

O modelo de Hersey e Blanchard pode ser adaptado para a liderança de equipes integradas por profissionais que tenham sido contratados como PJ, porque estes costumam ter níveis variados de maturidade e autonomia. Por exemplo:

  • Para PJs iniciantes, o estilo Diretivo ajuda a definir expectativas claras, escopo de trabalho e prazos.
  • Profissionais PJ com experiência intermediária podem se beneficiar do estilo Persuasivo, no qual o líder oferece apoio emocional e esclarecimentos enquanto ainda acompanha os resultados.
  • Para especialistas seniores ou PJs que operam de forma altamente independente, o estilo Delegativo é mais adequado, pois permite que eles entreguem resultados com autonomia, enquanto o líder foca em alinhar a visão e os objetivos estratégicos.

O modelo de liderança situacional oferece uma estrutura flexível que permite aos líderes ajustar suas abordagens para atender às demandas individuais dos profissionais, ao mesmo tempo que maximizam a produtividade e o engajamento da equipe.

Em tempos de pejotização como transformar desafios em oportunidades

A pejotização desafia as lideranças a equilibrar a autonomia dos profissionais com a necessidade de coordenação e alinhamento estratégico. Mas com diretrizes práticas é possível transformar os desafios em boas oportunidades.

Construção de relacionamentos

Sem o vínculo empregatício tradicional, criar conexões significativas com profissionais PJ pode ser mais difícil. Essa distância pode impactar o engajamento, a motivação e a retenção de talentos no longo prazo. Por isso, cabe ao líder criar relacionamentos de confiança, empatia e, principalmente respeito, com seus liderados. Mesmo que pareça desafiador, o processo pode ser bem mais parecido com o que acontece com equipes CLT, do que se imagina. 

Gerenciamento da produtividade

Monitorar e avaliar o desempenho de profissionais que atuam de forma autônoma, especialmente em projetos com prazos e escopos bem definidos, demanda novas estratégias e o uso de ferramentas que garantam clareza e eficiência no acompanhamento.

Negociar condições justas de trabalho

A negociação de valores para profissionais PJ deve ser feita com critérios claros, considerando a complexidade das atividades e os resultados esperados. Uma remuneração mal estruturada pode gerar insatisfações e comprometer a relação de trabalho.

Conformidade legal

A legislação trabalhista e tributária que rege a contratação de PJs é dinâmica e, muitas vezes, complexa. Líderes precisam estar atentos para assegurar que todas as práticas estejam em conformidade, evitando riscos jurídicos para a empresa.

Alinhamento cultural

Com perfis variados e objetivos profissionais distintos, integrar profissionais PJ à cultura organizacional também pode ser desafiador. Por isso, é preciso garantir que todos compartilhem a visão e os valores da empresa, promovendo alinhamento e colaboração mesmo sem vínculos formais.

Os desafios podem variar conforme o setor, o porte da empresa e as especificidades dos projetos. Porém, reconhecer essas questões é o primeiro passo para desenvolver uma liderança mais eficaz e alinhada às demandas desse modelo de trabalho.

Benefícios e oportunidades de equipes de PJs para a liderança

Apesar dos desafios, a pejotização oferece benefícios significativos, criando oportunidades tanto para empresas quanto para líderes. 

Ao contratar profissionais PJ, as organizações ganham mais flexibilidade para se adaptar rapidamente às demandas de mercado, ajustando o tamanho das equipes conforme necessário. Essa dinâmica permite não apenas reduzir custos fixos, mas também acessar talentos especializados que agregam competências essenciais para projetos pontuais, acelerando processos e trazendo inovação para dentro da organização.

Para os líderes, a pejotização pode significar times mais versáteis, formados por profissionais com perfis diversos e complementares. Como citado anteriormente este modelo estimula a inovação, já que o contato com especialistas autônomos contribui com novas perspectivas, promovendo soluções criativas e aumentando a qualidade das entregas. 

Além disso, com a relação orientada a resultados, a produtividade da equipe tende a crescer, já que os PJs possuem maior autonomia na gestão de suas rotinas.

Por outro lado, liderar equipes de PJs também desafia os gestores a desenvolver habilidades específicas, como negociação, gestão de contratos e construção de relacionamentos baseados em confiança e colaboração. 

Essa transformação não apenas beneficia os projetos em andamento, mas também fortalece a liderança no longo prazo, preparando-a para lidar com um mercado em constante mudança.

Embora os benefícios sejam claros, a pejotização exige um equilíbrio. Para extrair o máximo desse modelo, é preciso que as empresas avaliem os impactos, definam políticas transparentes e garantam conformidade legal. Dessa forma, é possível criar um ambiente que valorize o profissional enquanto assegura o sucesso das iniciativas e a harmonia no trabalho em equipe.

Como desenvolver habilidades de liderança para lidar com equipes PJ

Liderar equipes em um cenário de pejotização exige uma abordagem estratégica, flexível e centrada no relacionamento. Desenvolver habilidades específicas é fundamental para criar conexões sólidas e garantir a produtividade.

Para liderar equipes de PJs, a comunicação clara e constante é indispensável. Isso inclui alinhar expectativas desde o início, definindo responsabilidades e deixando metas e prazos bem estabelecidos. 

O uso de plataformas digitais de gerenciamento de projetos como o Trello, Teams ou Asana ajudará a simplificar o acompanhamento do trabalho, tornando o feedback mais assertivo e direto, fortalecendo os relacionamentos e ajustando os processos sempre que necessário.

Além disso, construir relacionamentos sólidos requer interesse genuíno pelos profissionais. Valorizar suas aspirações, reconhecer conquistas individuais e promover momentos de interação ajudam a fortalecer a confiança e o engajamento. Criar um espaço onde ideias e perspectivas são bem-vindas também estimula a inovação e o senso de pertencimento.

Flexibilidade é outro ponto-chave. Reconhecer diferentes formas de trabalho e oferecer ajustes nos horários ou locais, sempre que possível, demonstra respeito pelas particularidades de cada profissional. Da mesma forma, estar preparado para mudanças e reavaliar estratégias quando necessário garante que a equipe permaneça alinhada e motivada diante de imprevistos.

Liderar equipes compostas por PJs é uma oportunidade para transformar desafios em crescimento mútuo. Com uma abordagem objetiva e adaptável, é possível formar times motivados, alinhados e focados em resultados.

Qual o papel da liderança no contexto da pejotização?

Neste cenário, o papel da liderança deve ser marcado por inteligência emocional e adaptabilidade. Líderes que investirem nessas competências estarão mais preparados para inspirar suas equipes, mesmo em um ambiente dinâmico e desafiador.

A inteligência emocional é uma habilidade central. Compreender e gerenciar emoções, criar empatia e construir conexões com profissionais autônomos serão diferenciais para engajar equipes diversificadas.

Fica cada vez mais evidente que liderar em tempos de pejotização é mais do que gerenciar tarefas; é criar conexões humanas, em modelos flexíveis. 

Como foi destacado ao longo deste conteúdo, esse contexto traz oportunidades. Líderes podem formar times mais dinâmicos e diversificados, alinhados às necessidades específicas de cada projeto.

Por isso, invista em comunicação clara, empatia e inovação. Estabeleça relações de confiança, valorize as pessoas e promova um ambiente que estimule autonomia e colaboração.

Com essa abordagem, é possível transformar sua liderança, formando equipes alinhadas, motivadas e produtivas, prontas para alcançar resultados excepcionais.

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