Mudanças em modelos de negócios para sobreviver à crise

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Quando uma crise acontece, como o próprio cenário desencadeado pela pandemia do novo coronavírus, é natural que o mercado comece a analisar uma série de fatores, em conjunto com as suas lideranças, como os modelos de negócios ou a maturidade digital das suas empresas. Dentro disso, é necessário, ainda, um olhar para o hoje, para o amanhã e também para o longo prazo.

Para iniciar uma análise dos modelos de negócios mediante uma crise, Thomas Ritter e Carsten Lund Pedersen, professores e especialistas em negócios, indicam uma avaliação daquilo que chamam de as quatro principais dimensões:

  • clientes;
  • propostas de valor;
  • demonstrações de valor;
  • recursos.

Com uma avaliação das quatro dimensões, depois cabe uma outra análise, agora de como se dá a conexão entre cada uma delas. Já, como terceiro passo, os especialistas recomendam a definição de objetivos – importante enfatizar – realistas. Objetivos para durante e pós-crise.

Análise das 4 dimensões dos modelos de negócios

Para adentrarmos um pouco mais na análise das quatro dimensões dos modelos de negócios, vamos entender primeiro a questão dos clientes. Sendo assim, como ponto de partida, as empresas deverão avaliar o que a crise significa e impacta na demanda do cliente: aumentará? Diminuirá?

Outro ponto relacionado com os clientes é a questão do comportamento do consumidor e os padrões de consumo, será que estão investindo mais em um serviço do que outro? Por exemplo, estarão consumindo mais delivery do que compras físicas? É necessário considerar novos grupos de clientes? Há preocupações de segurança geradas pelo novo cenário? Como as vendas físicas serão afetadas?

Também, como dito, é fundamental que se tenha clareza sobre como será afetada a proposta de valor atrelada aos modelos de negócios. Ritter e Pedersen exemplificam a questão ao trazer o contexto do ensino superior durante a pandemia do novo coronavírus. Ou seja, as necessidades dos clientes não foram alteradas, os alunos ainda querem ser educados. Mas, se escolas e campus precisarem ficar fechados por um longo período, é essencial repensar em como criar valor como uma instituição on-line e quais podem ser os diferenciais perante os concorrentes.

Na dimensão seguinte, quando se fala em demonstração de valor dentro da análise dos modelos de negócios, estão os canais de vendas e marketing que fazem parte da empresa. Por sua vez, na crise do coronavírus, com restrições relacionadas com interações sociais e pessoais, canais típicos de demonstração de valor não puderam mais ser utilizados, como feiras, eventos e reuniões presenciais com os clientes. Dentro desse cenário, como conseguir  encontrar novas maneiras de demonstrar valor?

Por último, a quarta dimensão que deve ser analisada dentro dos modelos de negócios para sobreviver à crise, os recursos de uma organização são aquilo que impulsionam uma organização, inclusive para a criação de valor para os clientes. Em uma crise, é natural que ocorra uma sobrecarga e, por isso, há igualmente a necessidade de uma repriorização das capacidades.

Por exemplo, o suporte para TI para recursos de trabalho remoto e videoconferência foi mais exigido. Além disso, os níveis de produtividade e desempenho acabaram sofrendo uma queda, pelo menos inicial, com as mudanças ocasionadas pela saída do escritório físico para o home office.

A conexão entre todas as dimensões

Por fim, após a avaliação das quatro dimensões dos modelos de negócios, é possível planejar como mudanças potenciais podem ocorrer em uma dimensão e impactar nas outras. Por exemplo, grupos de clientes que valorizam determinadas ofertas e como isso mudará por conta crise. É fundamental adotar um mindset de oportunidade. Afinal, mais do que desafios em cada uma das dimensões, haverá chances para modificá-las em si, assim como a forma que se relacionam.

La Roche-Posay: transformando o modelo de negócio

Em artigo divulgado pela própria marca, a La Roche-Posay, que integra o grupo da L’Oréal, anunciou que passou a investir fortemente em iniciativas com foco na saúde e no planeta, transformando o seu modelo de negócio por meio da sustentabilidade. De acordo com a La Roche-Posay, os alertas que vêm sendo recebidos por cientistas não são poucos e, ao mesmo tempo, bastante decisivos. Dessa maneira, é preciso mudar a forma de fazer negócios e, por sua vez, alinhá-la com o meio ambiente.

É inevitável trazer para o contexto provocado pela pandemia do coronavírus a necessidade de mudanças rápidas e expressivas nos modelos de negócios. Nesse caso, em específico, a marca traz como mote a importância das ações lideradas pelas empresas e que podem ser utilizadas de forma positiva na produção e consumo de bens. Por conta disso, utiliza como âncora para os seus princípios – e para o próprio modelo de negócio – a transformação de vidas por meio da Dermatologia. Também se conecta com o programa do grupo, o L’Oréal para o Futuro.

Em 2020, cem por cento dos produtos lançados já tiveram como pano de fundo a causa ambiental ou social em uma de suas etapas, seja na produção, na formulação, nas embalagens ou no impacto que geram na sociedade, trazendo  a “ciência verde” para dentro da marca e trabalham com ativos orgânicos e naturais e materiais de origem vegetal, sem aditivos químicos. A meta para até 2030 é ter 90% das fórmulas de higiene e limpeza completamente biodegradáveis.

A mudança no modelo de negócio e o impacto social positivo foram impulsionados pela pandemia do coronavírus. Maíra da Matta, diretora da La Roche-Posay no Brasil, afirma que como a saúde, o core do negócio, se tornando prioridade no mundo todo, observaram um agravamento em desigualdades sociais. Com isso, vieram efeitos devastadores para comunidades vulneráveis e profissionais de saúde. O que serviu como ponto de virada para a marca.

Vale sempre analisar como grandes empresas estão se portando frente a questões que envolvem cenários de crise e, da mesma forma, como lidam com as quatro dimensões dos modelos de negócios.

 

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