Nos últimos anos, em especial durante e após a pandemia de Covid-19, vimos uma grande onda transformadora. Ela avassalou a sociedade de tal forma que foi preciso, sem planejamento, mudar todos os processos então conhecidos. E o mesmo se aplicou aos negócios.
Se antes era comum ver as pessoas se deslocando para trabalhar e cumprir suas jornadas de 40 ou até mais horas semanais, em horário comercial, agora a história é outra. Já existiam os freelancers, que trabalham por conta própria e em qualquer horário. Mas, com aquele novo cenário global, a forma de entregar um trabalho mudou. Pela impossibilidade de deslocamentos, as empresas precisaram alterar o relacionamento com as pessoas contratadas para entrega de serviços.
É um pouco disso que trata o conceito de liquid workforce, que explico adiante. O que é, sua relação com a modernidade líquida, benefícios e como isso contribui para a inovação nas empresas.
Liquid workforce: o que é
Liquid workforce pode ser compreendido como “força de trabalho líquida”, em tradução livre. Essa é caracterizada por desenvolver habilidades que auxiliam os processos em contextos de transformações cada vez mais ágeis e profundas.
Profissionais temporários por vezes são contratados para a entrega de serviços, auxiliando os demais integrantes do time. Por estarem habituados com o digital, as empresas têm à disposição especialistas de qualquer parte do mundo. E em qualquer horário.
A medida, no entanto, não é recente. A crescente adoção de trabalho feito por freelancers é algo que vem crescendo mundo afora nos últimos anos. Um estudo divulgado pelo site Upwork identificou que apenas em 2016 a força de trabalho temporária alcançou a marca dos 55 milhões de profissionais. O dado representa 35% da força total de trabalho norte-americana.
E não para de crescer: no Brasil, por exemplo, os “freelas” representam aproximadamente 40% da força de trabalho. A Hostinger divulgou uma estimativa dando conta de que existiam até 2022 algo em torno de 39 milhões de profissionais temporários.
Benefícios para os negócios
Mas, por que os profissionais temporários são interessantes? Como dito no tópico anterior, muitos deles desenvolvem características essenciais para sobreviverem no mercado. E mais ainda benéficas aos negócios, tais como:
- busca constante por aprendizado, o lifelong learning;
- proatividade por gerirem seus próprios trabalhos;
- independência;
- autogestão;
- criatividade.
Além disso, pela diversidade com a qual se formam os backgrounds desses profissionais, o time tende a ser multidisciplinar. Isso auxilia os processos de inovação e implementação de fatores como a cultura ágil.
Outras vantagens de investir na liquid workforce são a capacidade de formar um time especializado em uma vasta gama de conhecimentos. E, em consequência, a redução de custos com questões trabalhistas aplicadas a trabalhadores em Regime CLT, além de prover liberdade de gestão do tempo por conta da pessoa envolvida.
Liquid workforce e modernidade líquida
A modernidade líquida, conceito criado pelo filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman, ocorre, segundo ele, desde o final da Segunda Guerra. Mas se intensificou ao longo dos anos 1960 em diante. É marcada pela recusa ao enrijecimento das relações e processos, pela fluidez nas interações entre instituições e pessoas. E, de certa forma, na fragilidade disso tudo.
A interseção entre os conceitos de modernidade líquida e liquid workforce representa uma troca bilateral entre as pessoas que fazem parte do processo. Diferente do passado, onde o time obedecia ao que lhes era sugerido, de forma unilateral pelo líder, hoje todos têm voz. E, nesse contexto, vários pontos de vista podem ser incorporados.
Isso vem de encontro, por exemplo, ao choque geracional e aos anseios dos profissionais nascidos nas últimas décadas. Grande parte deles não se acomoda ou aceita processos estanques, nos quais a inovação é sumariamente evitada.
Por exemplo, uma pesquisa divulgada pela Deloitte sobre as gerações millennial e Z identificou que 29% de cada uma delas consideram, ao escolher seus trabalhos, a possibilidade de aprender e desenvolver oportunidades. Ou seja, um ambiente estanque e pouco propenso a transformações tende a ser evitado por essa força de trabalho que também integra a liquid workforce.
Liquid workforce e processos de inovação
Ou seja, ao adquirir talentos que conseguem transitar entre ambientes diversos, implementar uma cultura da inovação fica menos complexo. Isso porque essas pessoas, normalmente estão mais habituadas a mudar e a buscar, elas próprias, pela transformação.
Isso significa que as organizações, para serem inovadoras, precisam se desfazer a força de trabalho fixa em regime de CLT e usar a temporária? Não necessariamente. O equilíbrio entre ambas as forças pode favorecer também a busca por inovação. Cabe às lideranças inovadoras saberem dosar e promoverem a interação entre elas.
Toda essa discussão traz à tona que as pessoas estão no centro do processo. Apesar de existirem tecnologias que auxiliam a busca por inovação, sem pessoas motivadas e engajadas, a mudança não ocorre. Por isso, se quiser saber mais sobre o assunto, leia este outro artigo: a inovação é feita de gente e não apenas de tecnologia.
