A holocracia é um modelo de gestão que recusa a hierarquia comum das empresas. Não existem CEOs, diretores e gerentes em uma organização holocrática. Porém, isso não significa que várias das atividades desses antigos cargos não sejam desempenhadas. Eles existem, mas são desempenhados de maneira diferente.
Desse modo, não se trata apenas de uma mudança de nomenclatura, onde a teoria prega algo disruptivo e a prática se mostra igual a anterior. Em um sistema holocrático, o design organizacional é modificado.
E como isso funciona? É possível manter a produtividade e os resultados da empresa? Esse modelo já foi colocado em prática alguma vez? Ele contribui com a inovação nos negócios? Confira no texto abaixo o que é holocracia, principais mitos, quais as vantagens e desvantagens desse sistema.
O que é holocracia e como ela funciona?
A holocracia é um sistema de autogestão organizacional, cuja divisão de atividades é baseada em papéis e círculos de atuação. Cada pessoa colaboradora possui um papel e tem liberdade em sua rotina enquanto estiver alinhada aos propósitos da empresa.
O modelo de gestão ganhou destaque em 2007 por causa de Brian Robertson, autor do livro “Holocracia: o novo sistema de gestão que propõe o fim da hierarquia”. A Constituição que rege os preceitos da holocracia está em sua quinta versão. O objetivo é o mesmo desde a criação: acelerar as tomadas de decisões ao proporcionar mais autonomia, liberdade para experimentar, aprender e inovar.
No dia a dia do ambiente de trabalho, reuniões ainda são realizadas e há nomenclaturas que ajudam a distribuir as responsabilidades entre as pessoas colaboradoras, mas a dinâmica é bastante diferente do modelo tradicional de gestão.
Por exemplo, na empresa onde você trabalha, as pessoas que ocupam cargos da alta gestão serão subordinadas às regras da holocracia, assim como todos os colegas. A famigerada “chefia” deixa de existir, há uma despersonalização e descentralização do poder. No lugar dos cargos entram os papéis e no lugar das áreas entram os círculos.
Abandona-se a estrutura piramidal e adota-se uma circular. Sendo que esses círculos podem estar dentro de outros círculos e algumas pessoas assumem papéis de elos entre eles. Essa estrutura é muito mais dinâmica, pois os papéis podem mudar e se adaptar conforme a necessidade da organização, assim como o número de círculos.
Esse sistema também preza pela cultura ágil nas empresas. Adota fortemente o protagonismo e assume que a ambidestria organizacional é necessária para se manter relevante no mercado.
Principais características da holocracia
Para facilitar o entendimento do modelo, confira alguns aspectos fundamentais desse sistema. Você notará que, além da mudança estrutural, a holocracia é sinônimo de uma mudança coletiva de mindset.
- Gestão horizontal – no lugar da gestão vertical, o sistema preza pela tomada de decisões em conjunto. Por isso mesmo, todos os papéis possuem autoridade dentro da holocracia.
- Flexibilidade – os papéis podem mudar e também transitar entre os círculos. Como o principal compromisso é com as atribuições e objetivos da organização, você pode solicitar a ajuda de um papel de outro círculo para resolver determinada questão.
- Autonomia e coletividade – holocracia não é ausência de ordem básica. Para que os processos funcionem, a autonomia de cada pessoa é indispensável, ao mesmo tempo, a colaboração diária e o consenso na tomada de decisões também são.
- Busca de satisfação interna – ao conferir mais autonomia, a holocracia também busca a satisfação das pessoas colaboradoras no ambiente de trabalho e, por consequência, engajamento genuíno para desenvolvimento individual e geral.
- Transparência de responsabilidades e ações – nada do que foi dito até agora será efetivo se o sistema não for explícito em suas regras e objetivos. O mesmo vale para as atividades de cada papel na empresa.
Como começar a implantar a holocracia nas empresas?
Para adotar a holocracia, é fundamental que todos os profissionais participantes do processo estejam alinhados com o significado desse sistema e o que ele exigirá em termos de habilidades e competências.
As primeiras versões da Constituição da holocracia pregavam que as empresas deveriam adotar todos os módulos de uma vez. Conforme a última edição, é possível que a companhia selecione alguns módulos para iniciar a implantação.
Para facilitar essa transição, você pode escolher apenas um setor/área da empresa. Assim, não será preciso mudar o modelo de gestão de todo o negócio do dia para noite. Afinal, estamos falando de uma profunda modificação, que também deve ser acompanhada por uma transformação cultural.
Como o próprio criador da holocracia destaca no site oficial do modelo, não é recomendado que a Constituição seja usada para que as pessoas aprendam a prática da holocracia. A orientação oficial é que os interessados comecem a adquirir experiência no processo, conversem com outras pessoas que implantaram o sistema e especialistas sobre o assunto.
5 mitos sobre a holocracia que você não deve acreditar
1. Na holocracia, todos os poderes são iguais”
Em um sistema holocrático, o poder é sinônimo de atribuições e responsabilidades. Estas não são iguais entre os papéis, então, os poderes também não são iguais. Esse ponto leva a uma série de contradições e contestações de pessoas que afirmam que ainda há um tipo de hierarquia na holocracia.
2. “Esse modelo de gestão é só uma ideia e nunca foi colocado em prática”
A holocracia já foi colocada em prática, até mesmo no Brasil. A pioneira em terras brasileiras foi a Geek, mas a empresa não adota mais o modelo. Como exemplos atuais, podemos citar: Eduk (BR), Target Teal (BR) e Zappo (EUA).
3. “Grandes organizações não podem adotar a holocracia”
Grandes organizações podem adotar a holocracia. Não há nenhum impedimento descrito pelos fundadores do sistema. A implantação depende muito mais do engajamento e preparo da empresa que de seu porte.
4. “A Constituição da holocracia ignora a experiência do cliente”
A Constituição é focada na estrutura interna da organização, mas isso não significa que a preocupação com os clientes não exista. A empresa pode ter diretrizes que unam o sistema da holocracia com objetivos de melhorias constantes no atendimento ao cliente.
5. “A implantação desse modelo de gestão requer um alto investimento inicial”
Você não precisa pagar a ninguém em específico para implantar a holocracia em seu negócio. Contudo, é importante que você saiba que precisará investir tempo em planejamento, reuniões de engajamento e preparação das equipes para o novo modelo. Contar com um especialista que possa ajudar seu time a se adaptar à novidade é opcional, mas será de grande ajuda.
Vantagens e desvantagens da holocracia
Confira abaixo uma lista com três vantagens e três desvantagens da holocracia para as empresas.
Vantagens
Promove o protagonismo avançado
A importância do protagonismo no ambiente de trabalho já apareceu diversas vezes nos textos desse blog. Na holocracia, o protagonismo é mais que uma necessidade, é um aspecto inerente a qualquer colaborador ou colaboradora. Sem protagonismo, as atividades dificilmente serão realizadas.
Comunicação mais eficiente
Na holocracia, a comunicação interna tende a ser mais efetiva e ágil. As reuniões servem muito mais para definir pontos de tensão (problemas e dúvidas) que para controle de ações realizadas ou não.
Impulsiona a cultura de inovação
Por conta de todas as características já apresentadas, o sistema de autogestão preza pela criatividade e o surgimento de ideias inovadoras. Assim, é comum que startups se interessem pelo modelo e tenham mais facilidade na implantação (o que não significa que seja um processo rápido e sem desafios).
Desvantagens
Requer profunda transformação cultural
Por ser um novo sistema de gestão, a implantação da holocracia requer que colaboradores, e colaboradoras de todos os níveis hierárquicos presentes até então, modifiquem diversos hábitos e modos de enfrentamento de questões no ambiente de trabalho. O poder está presente em suas atribuições e não mais em uma denominação de cargo.
Exige tempo e paciência
Todas as empresas que são (ou tentaram ser) holocráticas relataram uma série de desafios e até erros no início do processo. Não à toa, visto que a mudança é significativa e pode precisar de mais tempo e paciência do que o imaginado. Alguns perfis profissionais terão mais dificuldade em se encaixar na holocracia.
Implantação costuma ser híbrida
Apesar de todos os benefícios que o sistema pode trazer, ainda é difícil que a holocracia seja plenamente implantada em uma empresa. Por conta da resistência das lideranças e até mesmo pelas características de algumas empresas, é mais comum que o modelo seja adaptado e a implantação ocorra com várias alterações.
E você? O que pensa sobre esse sistema de autogestão? Acredita que ele pode ser eficiente ou é cético/a em relação ao assunto? Deixe seu comentário.