Organizações buscam eficiência e eficácia organizacional em seus processos. E não estão erradas, visto que, no fundo, tudo que desejam é melhorar e desenvolver seus negócios.
Contudo, hoje quero falar um pouco sobre esses dois conceitos em organizações que também desejam ter ideias inovadoras.
Conceito de eficiência e eficácia organizacional
A eficiência é o que podemos definir como a empresa que consegue executar projetos e tarefas. Seus colaboradores e colaboradoras mostram produtividade e competência. Ou ainda, segundo o dicionário de Oxford, a eficiência é a “virtude ou característica de alguém que consegue o melhor rendimento com o mínimo de erros e/ou dispêndios”.
Basicamente, a qualidade almejada por várias lideranças em suas equipes, concorda?
Já a eficácia é a execução estratégica de projetos e tarefas. Portanto, diferente da eficiência, a eficácia organizacional foge um pouco do nível operacional e busca não a produtividade, ou o “fazer certo”, mas a assertividade, o “fazer o que é mais interessante para a empresa”.
Obviamente, eficiência e eficácia organizacional produzem resultados ainda melhores quando são alcançadas juntas. Mas é a eficácia organizacional que está mais próxima da inovação nos negócios. Veremos isso melhor no próximo trecho.
O futuro incerto e a busca pela inovação
O futuro “sempre” foi/é incerto. A impressão de que estamos vivendo um momento especial de grandes transformações é desmentida pelos estudos históricos.
Segundo estes, a geração que viveu as maiores transformações foi a do início do século XX. Ela nasceu sob a luz de velas e viu o homem pisar na Lua. Nesse meio tempo, cerca de 50 anos, passou da tração animal aos aviões transcontinentais; presenciou as duas maiores guerras. Viu a expectativa de vida passar de 35 anos a 70 anos na média, ganhou duas vidas pelo preço de uma.
Aliás, desde 2011, a existência do “clube dos Supercentenários” serve como prova. Estes, aliás, devem saber o que são “transformações” e inovação.
Tudo fica mais simples quando olhado “depois”. No calor da batalha, no momento vivido, as coisas tendem a se apresentar com as cores mutantes da complexidade. A tendência humana em narrar de forma lógica os acontecimentos muitas vezes cria simplificações demasiadas, ilusões e cientificismos.
No artigo “A produtividade como um processo antitético: uma proposta para a ilustração entre a estabilidade e a criatividade nas organizações”, do qual sou um dos autores, com base em extensa revisão de literatura, foi proposto um modelo de integração entre os conceitos de estabilidade e criatividade nas organizações.(1)
O resultado final ficou muito alinhado ao conceito do caminhar humano, definido como um estado contínuo de alternância entre o equilíbrio e o desequilíbrio do corpo, do organismo, da organização.
Modelo Triplo P ampliado
As exigências da inovação
Do artigo citado anteriormente, destaco alguns trechos:
A gestão científica das organizações, por vezes, busca “cegamente a redução da variação” em nome da eficiência máxima. Em determinadas situações, como no caso da inovação, a variabilidade não deve ser evitada. Ao contrário, ela precisa ser incentivada. (2). E fazem o seguinte comentário sobre essa tarefa onerosa:
“A abordagem científica tradicional para esses tipos de situação é a de tentar controlar todo o ambiente através da imposição de regras complexas que dizem o que fazer em todas possíveis circunstâncias. Isso não apenas reduz a responsabilidade, como também muitas das vezes faz com que os trabalhadores liguem o “piloto automático” ao invés de tentar entender as especificidades de cada job.”
Nessa mesma linha conceitual, Sarasvathy e Dew (3), através da noção de isotropia, reforçam a dificuldade de se determinar ex ante o desenrolar de uma inovação:
“Isotropia refere-se ao fato de que, nas decisões e ações que envolvem consequências futuras incertas, nem sempre é claro ex ante em quais partes de informação vale a pena prestar a atenção e em quais não […].”
Ou seja, um fenômeno que ex post parece uma decorrência coerente de determinados acontecimentos, pode ser realmente o resultado de uma sequência idiossincrática de ações realizadas por entidades limitadas cognitivamente e que estavam apenas tentando resolver problemas imediatos.
E assim caminha a inovação… através da “co-evolução dos espaços problema e solução”. Sério! Isso é design.
Você entendeu? A inovação exige ambiguidade, indefinições, apostas e risco. Não se chega à inovação sem aprender a atuar em ambientes isotrópicos.
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- MANHAES, M. C. ; Vanzin, T. . A produtividade como um processo antitético: uma proposta para a ilustração da relação entre estabilidade e criatividade nas organizações.. In: Vanzin, T.; Ulbricht, V.. (Org.). Criatividade e Conhecimento. Florianópolis: Pandion, 2010, v. , p. -.
- HALL, J.; JOHNSON, M. When should a process be art, not a science. Harvard Business Review, Harvard Business School Press, 2009, p. 60
- SARASVATHY, S.D.; DEW, N. New market creation through transformation. Journal of Evolutionary Economic, v.15, n.5, p.533-565, Springer, 2005.