Organizações em evolução: A aplicação da Dinâmica da Espiral na gestão de pessoas e cultura

Cultura Organizacional

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Transformações digitais e metodologias ágeis

Conheci a metodologia criada por Don Beck nos idos de 1990, em Florianópolis quando juntamente com a Dra. Deodete Packer Vieira realizamos um evento para divulgá-la, algo ainda inédito no Brasil. Ele próprio esteve no evento realizado na FIESC e ao me deparar com o que estava sendo colocado, fiquei impactada pela experiência colocada por ele principalmente na mentoria que havia sido realizada por ele para Nelson Mandela. 

Um dos exemplos mais marcantes da aplicação prática da Dinâmica da Espiral foi o processo de transição pós-apartheid na África do Sul. Com o apoio e a orientação de Don Beck, Nelson Mandela utilizou os princípios da teoria para conduzir o país de forma pacífica rumo a uma democracia multirracial. Esse trabalho conjunto foi fundamental para evitar uma guerra civil nos anos 1990, oferecendo um caminho de reconciliação em um cenário altamente polarizado.

Isso ficou esquecido por muito tempo em minha mente e prioridades mas um dia ela apareceu novamente e venho resgatando os seus princípios porque vejo muita pertinência frente a todos os problemas que estamos enfrentando tanto nas organizações como na visão da geopolítica mundial. 

A Dinâmica da Espiral de Don Beck

A Dinâmica da Espiral é um importante estudo sobre como a evolução da humanidade acontece, com aplicabilidade em diferentes meios – especialmente na resolução de conflitos, no desenvolvimento humano e na transformação de culturas organizacionais. A teoria, co-desenvolvida por Don Beck e inspirada nos estudos de Clare W. Graves, é uma das estruturas mais poderosas para compreender os diferentes níveis de consciência e complexidade nos indivíduos, grupos e sociedades. Já comentamos esse assunto aqui em outro artigo dentro do blog e você pode acessar neste link. 

A natureza da mudança e a inteligência adaptativa

A teoria explica a complexidade do mundo e a natureza das mudanças ao nosso redor. É baseada em mais de 50 anos de pesquisa sobre desenvolvimento humano. Don Edward Beck, da Don Beck da Spiral Dynamics Integral Foundation e presidente do The Spiral Dynamics Group, propôs uma leitura dinâmica da realidade, entendendo que a natureza humana não é fixa, mas evolutiva. Ele considerava que todos possuímos uma inteligência adaptável e complexa, moldada pelas condições de vida.

Segundo Don Beck, a espiral é infinita, com níveis de consciência que ainda estão por vir, ligados ao futuro da humanidade e à sua integração mais profunda com o todo. Cada estágio representa uma resposta bio-psico-social às circunstâncias que moldam o nosso modo de pensar, agir e interagir com o mundo.

Os oito níveis de consciência

A Dinâmica da Espiral mapeia oito estágios principais do desenvolvimento humano. A eles são atribuídas cores que representam sistemas de valores distintos. Esses níveis podem ser aplicados tanto para indivíduos quanto para organizações e sociedades. A espiral se divide em dois grandes blocos:

  • Primeiro nível – Subsistência: níveis focados na sobrevivência e adaptação ao ambiente imediato (Bege, Roxo, Vermelho, Azul, Laranja, Verde).
  • Segundo nível – Existência: níveis focados na integração, consciência sistêmica e valores pós-materialistas (Amarelo e Turquesa).

A seguir, detalhamos cada um dos níveis:

1. Bege – Sobrevivência Instintiva

É o nível mais primitivo. Reflete um estado de consciência onde o foco está em sobreviver. É acionado em situações extremas como fome, guerra, abandono. Ainda presente em grupos marginalizados ou em populações em situações de extrema vulnerabilidade.

2. Roxo – Tribal Místico

A vida em grupos pequenos, com laços de sangue, magia e rituais. Forte lealdade ao clã, aos ancestrais e à tradição. Muito presente em comunidades tradicionais e culturas que se organizam por meio de rituais familiares ou religiosos.

3. Vermelho – Poder Impulsivo

Neste estágio emergem o ego, a vontade de poder e a força bruta. O indivíduo ou organização busca afirmação, liderança autoritária e domínio. É um nível egocêntrico, muitas vezes necessário para a ruptura com o conformismo anterior.

4. Azul – Ordem Absoluta

O mundo passa a ser visto como ordenado e moralmente estruturado. Regras, hierarquia, religião e dever são os alicerces. A segurança vem da obediência. Muito comum em instituições como igrejas, forças armadas e escolas tradicionais.

5. Laranja – Conquista Estratégica

Marca a ascensão da racionalidade, da ciência e do progresso. É o mundo da meritocracia, da lógica e do sucesso individual. Aqui nascem as corporações modernas, o empreendedorismo, a inovação tecnológica e o capitalismo competitivo.

6. Verde – Igualdade Sensível

Representa uma crítica ao individualismo do Laranja. Valorização das relações humanas, empatia, justiça social e diversidade. É o nível das organizações horizontais, da escuta, da inclusão e da busca por consenso.

7. Amarelo – Flexibilidade Integrativa

É o primeiro nível do segundo bloco da espiral. A visão se torna sistêmica, flexível e integrativa. Aqui as pessoas conseguem conviver com diferentes níveis da espiral sem julgamento, buscando funcionalidade, adaptabilidade e soluções sustentáveis.

8. Turquesa – Holismo Coletivo

O mundo é percebido como um sistema vivo integrado. O pensamento é ecológico, espiritualizado, consciente da interconexão entre tudo. Pessoas e organizações turquesa atuam com base em valores planetários, consciência expandida e sabedoria coletiva.

Aplicação a Dinâmica da Espiral nas organizações

A Dinâmica da Espiral é uma ferramenta estratégica para lidar com a diversidade de visões de mundo dentro das empresas. Em um mesmo ambiente corporativo, podem coexistir diferentes níveis de consciência – por isso, diagnosticar o estágio predominante é essencial para alinhar cultura, liderança e estratégias.

Empresas como a Southwest Airlines e a IBM usaram a Espiral Dinâmica para resolver conflitos internos, alinhar lideranças e promover mudanças sustentáveis, com base nos valores e no estágio de evolução cultural de seus times.

O pensamento em espiral permite redesenhar o ambiente de trabalho com base nas pessoas, e não nos cargos. Como afirma Darrel Gooden, estudioso da teoria:

“Alguém que possua conhecimentos sobre a Dinâmica da Espiral olharia para a organização a partir de três planos: X (tarefas), Y (sistemas que coordenam essas tarefas) e Z (visão integradora dos dois).”

Esse redesenho organizacional valoriza o potencial humano, promove a colaboração e desperta o protagonismo. Cada pessoa passa a exercer funções que realmente ressoam com sua forma de pensar e agir, respeitando sua posição na espiral.

A liderança na Dinâmica da Espiral

Um dos ensinamentos mais relevantes de Beck é que um líder eficaz precisa estar dois níveis acima da média de sua equipe. Isso não é sobre hierarquia, mas sobre capacidade de visão, antecipação e orientação.

Um líder “Azul” lidará melhor com equipes “Vermelhas”. Um líder “Verde” pode acolher times “Laranja” e assim por diante. Quando o líder está muito distante da média (por exemplo, Turquesa com equipes Azuis), pode haver desconexão.

Isso explica por que transformações culturais profundas devem ser feitas com muito cuidado, respeitando os estágios atuais da organização e conduzindo-a de forma gradual para os níveis mais elevados.

Os cinco princípios orientadores propostos por Beck

Independentemente do estágio da organização ou sociedade, Beck aponta cinco ideais universais que devem guiar decisões e estratégias:

  1. Ter um propósito nobre em relação à vida;
  2. Buscar elegância e funcionalidade nas soluções;
  3. Compreender que lucro é importante, mas não o único objetivo;
  4. Não negligenciar a responsabilidade social;
  5. Apostar na ecologia e sustentabilidade como valor essencial.

A Espiral Dinâmica nos convida a enxergar o mundo com mais empatia e profundidade. Ela não classifica as pessoas como “melhores” ou “piores”, mas nos mostra que cada nível é uma resposta legítima às condições de vida. Esse olhar permite que líderes, educadores, terapeutas e consultores organizacionais conduzam pessoas e organizações por caminhos de crescimento consciente.

No contexto atual, de transformação digital, desafios ambientais e urgência por novos modelos de liderança, aplicar os princípios da Espiral Dinâmica pode ser um diferencial estratégico e humano.

Inovar, nesse cenário, não é apenas implantar tecnologias – é evoluir o modo de pensar das pessoas e preparar os sistemas organizacionais para transitar com fluidez pelos diferentes níveis da espiral.

E como isso poderia ser aplicado no seu dia a dia? Deixe seus comentários aqui. 

Conheça como estamos levando esses conceitos em nossos workshops in company. Ficaremos felizes em desenhar uma solução adequada às necessidades da sua realidade. 

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